terça-feira, 29 de junho de 2010

Memê solta o verbo!!!


DJ, produtor, remixer, entertainer... Memê é um dos poucos artistas realmente completos da cena eletrônica brasileira. Não por acaso, ele também tem muito a dizer!



Falar de Memê é algo fácil, já que o artista tem uma longa e vitoriosa história dentro do cenário musical brasileiro e mundial. Dentre gigs por todo o planeta, remixes históricos e tracks autorais consagradas, o DJ/produtor carioca conversou de forma exclusiva com a Electro M.A.G.. Distante da hipocrisia, Memê expressou exatamente o que pensa sobre a cena eletrônica em uma entrevista reveladora e contundente.

Electro M.A.G.: A faixa Sun Is Coming Out está absolutamente estourada no Brasil. Esse sucesso te surpreendeu?

Memê: Essa música me surpreende por várias razões. Ela foi produzida como uma brincadeira em 2005, apenas para que eu tivesse algo autoral pra tocar, e que não fosse a chatice do (falecido) ‘electro’ – que estava contaminando o planeta. Inicialmente, gravei a voz do Rogério Flausino (Jota Quest) cantando diversas melodias e editei tudo criando uma melodia só. Fiz isso para reforçar a base instrumental que eu havia criado e a batizei de Chanson Du Soleil. Desde então, a música foi pouco a pouco abocanhando partes diferentes do país. Começou em Minas Gerais, depois apareceu no Sul e no Norte, até que em 2006 começou a tocar no Rio de Janeiro. Virou febre no programa Caldeirão do Huck, que logo me pediu autorização para usá-la em seu CD. Em 2007, criei uma versão dela com letra real em inglês e com vocal de um cantor canadense, para jogá-la no exterior. Vários DJs internacionais gostavam dela, mas não entendiam muito o formato da melodia sem letra. Com essa nova roupagem, ela começou a entrar em compilações da Hed Kandi e Ministry Of Sound, onde já há algum tempo lanço outras tracks. As revistas inglesas DJ Mag e M8 Magazine comentaram bastante sobre a música e o fato de ainda não existir gravadora oficial para ela. Logo após, em 2008, a Playmore assinou a faixa, o que ajudou bastante a distribuição no exterior.

Quando eu achei que já havia acabado o tempo dela, o inesperado aconteceu: um pedido de uso da Rede Globo para a novela Caminho das Índias. Ao mesmo tempo, eu estava produzindo a trilha sonora inteira do filme Se Eu Fosse Você 2, onde acabei usando a versão nova duas vezes em cena. Foi um boom!!! Ela renasceu com nova letra, nova voz e atingiu mais rapidamente lugares onde ainda não havia chegado como o estado de São Paulo. Percebi que tinha uma música tocando há quatro anos sem parar e que ainda havia muito pano pra manga.

Outro fato imprevisível aconteceu. Caminho das Índias estourou a música em Portugal, país que acompanha nossas novelas como religião. Desde então, vou direto para Portugal por conta disso.

Electro: Você gosta de ressaltar que toca o “house verdadeiro”. Você diria que o público estrangeiro gosta mais do house genuíno do que o público brasileiro?

Memê: Ok, vamos esclarecer para não parecer xiitismo. Eu toco aquela música que foi batizada de ‘house’ desde o início. Que nasceu em Chicago e até hoje mantém raízes firmes na soul music, com um BPM mais alto. Isso chama-se house music. Cantada ou não, há uma alma nela, mesmo sendo feita eletronicamente. Não venham falar pra mim que David Guetta é DJ de house, porque não é... Fato! Alguém tem que avisá-lo, por favor. Aquilo é “tech-qualquercoisa”, mas de house, não tem nem o cheiro. Bem, agora que eu chafurdei, vamos então mais fundo em alguns fatos que diferenciam o público brasileiro do gringo. Espero não causar muita polêmica com isso, mas são fatos. O Brasil não tem raízes na música de pista. Nosso povo aprendeu música com os ritmos mais variados possíveis, como samba, forró, axé, maxixe... Mas dance music nunca fez parte disso, até porque não temos um leque suficiente de artistas nacionais fazendo dance music continuamente. E é isso que dá a sustância necessária. Essas coisas só aparecem quando explode alguma modinha aqui e dezenas de artistinhas efêmeros surgem cantando qualquer coisa em uma base 4x4. Mas depois, somem com a mesma rapidez e não há continuidade. Logo, a cultura eletrônica não está inserida em nosso povo de uma forma geral – exceto no underground, que não depende disso. Fora do Brasil, nos grandes focos mundiais da cena, a dance music sempre teve seus representantes, artistas, clubs e uma cultura que (em alta ou em baixa) sempre fez parte da vida das pessoas. Portanto é mais fácil ver a house music genuína com seu lugar cativo por lá. No exterior, sempre haverá muita gente querendo ouvir todos os tipos de música, e não somente a “da moda”. É exatamente isso que permite que eu saia do meu país e engate dois meses seguidos em um tour europeia. Eu toco a música que eles mesmos fazem e sou muito bem aceito!

Electro: Qual foi a gig mais bacana que você já fez até hoje?

Memê: Essa é difícil e comprometedora, mas há algumas boas lembranças mais recentes no Brasil. Toquei no Garage (em Cuiabá) há pouco tempo com o Sollar, projeto no qual me apresento ao vivo junto com o George Israel (saxofonista do Kid Abelha). Fiquei tão animado com o projeto da casa e do som que entrei na cabine com a adrenalina de um louco. O George fi cou assustado (risos). Tenho tentado sempre reproduzir o vibe daquele dia em qualquer lugar onde eu vá tocar. As gigs na Privilège (de Búzios e Juiz de Fora) também são todas memoráveis.

Gosto tanto de tocar na Privilège que a música Sun Is Coming Out foi feita em homenagem à casa. Poucas pessoas sabem disso! Já no exterior, houve uma gig em Bari (Itália) no ano passado na qual eu saí literalmente chorando do club de tão emocionado (risos). Tivemos que desligar o som e acender a luz, pois ninguém queria ir embora. Foi no club Nuclé (www.myspace.com/nucledisco), cujo dono é um milionário que herdou uma fábrica de máquinas de fazer azeite. Mas o coração do cara mora na pista e ele construiu um “mini castelo” no local de uma fábrica de farinha desativada, afastada da cidade. Ele abre apenas duas vezes por mês para levar DJs que ele respeita e admira pelo som que tocam. Preciso citar também minha primeira vez na Austrália, onde toquei em Sydney e Melbourne. Ambas foram maravilhosas. Em Sydney, toquei em um barco que deu a volta completa na baía da cidade num dia abençoado de tão lindo. Mas em Melbourne, não sei explicar o que houve. Meu coração ficou lá. Parecia que o público estava me esperando há anos... Por conta de tanto amor assim, volto dia 3 de julho para celebrar o aniversário da casa. Para quem quiser conferir, esse é o meu canal no YouTube com alguns desses vídeos: www.youtube.com/user/memedj .

Electro: Em qual país você ainda não esteve e tem muita vontade de tocar?

Memê: Olha, eu amo o Japão! Tenho tangenciado esse país há algum tempo, tocando na Coreia, Indonésia e Havaí, mas sempre passo raspando. Desde os 3 anos de idade, tenho absoluta fixação por tudo o que vem de lá, muito provavelmente por conta dos seriados japoneses que eram febre na minha infância. Hoje os respeito mais ainda, pois japonês gosta de música mesmo!

Jazz, bossa nova, soul, R&B... Tudo isso tem seu espaço no Japão, mesmo que no país de origem a moda já tenha passado. Lá é meu sonho dourado, mas não tenho pressa. Já estou a um passo de concretizar isso, pois recebo pedidos de contratantes locais. Só é complicado, pois temos que “casar” a ida com outras gigs na Ásia que se encaixem na minha agenda. O mais legal é que eles me procuram pela música que eu produzo e toco. Ou seja, fiz o caminho certo! Por isso não tenho pressa...

Electro: Como está sua agenda internacional para os próximos meses, durante o verão no Hemisfério Norte?

Memê: Vou tocar na Itália, Marrocos, Grécia, Portugal, Austrália, Filipinas e Indonésia. Serão no mínimo duas gigs em cada um desses países. Venho ao Brasil no final de julho para cumprir datas já marcadas por aqui, mas dia 21 de agosto volto para a Europa para encarar o trabalho mais “chato”, que “infelizmente” sou obrigado a fazer: dez dias em Ibiza, sem roupa alguma! (risos)

Electro: Você tocou recentemente na Festa de Peão de Barretos. Como é tocar em eventos populares como esse? Ainda tem gente que estranha ouvir música eletrônica num evento sertanejo?

Memê: Nem os bois estranham mais (risos). A música eletrônica virou trilha sonora de lanchonete na zona da luz vermelha, bro. Se bobear, até os peões que vão montar no boi esperam o fim do rodeio pra cair na pista... Existe uma “indústria” gigantesca de festas nessa região, que fazem eventos de deixar qualquer club do mundo com inveja.

Electro: Um dos grandes momentos de sua carreira foi em 2008, quando a Yoko Ono te convidou para remixar a clássica faixa Give Peace A Chance, de John Lennon. Seu remix foi o 1º lugar da parada Hot Dance, da Billboard. Como pintou esse convite?

Memê: Fui contratado pelo Craig Roseberry, que trabalhava no selo dela e era o encarregado de procurar os remixers participantes do projeto. Ele chegou em mim através da indicação do Michael Paoletta, que escreve a seção Hot Dance da Billboard – e que, por sua vez, é fã do meu trabalho. Hoje ele se tornou inclusive um bom amigo. O projeto era um EP de remixes (da mesma música) feitos por vários DJs e eu estava entre eles. Segundo o Roseberry, a Yoko é uma artista plástica que conheceu John Lennon e se meteu a cantar. Ela não se importa com vendas, pois administra o espólio de Lennon e isso já dá um trabalho danado. Mas o que ela sempre quer quando lança um disco é o “hype” de chegar ao primeiro lugar e mostrar isso à galera chique que a rodeia. Seja com o álbum ou com a versão remix.

Electro: Que gêneros, artistas e/ou DJs você tem ouvido?

Memê: Depois que tomei coragem e comprei um iPod, enchi ele de músicas dos anos 70/80, pois são boa fonte de idéias para samples e regravações. O projeto DJ Meme Orchestra, um dos “braços” da minha carreira, foca muito nisso.

Electro: Com qual DJ/produtor você gostaria de tocar um dia?

Memê: Ah, não tem dessa comigo, pois gosto mais é de ver os outros tocando e prestar atenção. Quando eu toco, não gosto de dividir o som. Até porque, quer saber a real? Ninguém toca com ninguém! Vc faz o seu set e fulano faz o dele. “Tocar com fulano” significa literalmente dividir os decks e é difícil haver um back-to-back. Portanto quando você vir escrito no histórico de um DJ alguma pérola como “tocou com Tiësto, Fatboy Slim, Steve Angello e Erick Morillo, dentre outros”, pode crer que é tudo “mentira-pra-pegar-playboy”.

Principalmente se o cara for residente de algum club, que normalmente contrata DJs de fora. Raros são os momentos que alguém divide o set com outro. É como dividir a própria cama, bro... Ninguém quer fazer isso. A menos que haja muita intimidade, né não?

Electro: Como anda seu lado produtor? Tem mais novidades vindo por aí?

Memê: O meu lado produtor gosta muito de se manifestar através dos remixes. São eles a minha verdadeira paixão, bem mais que músicas autorais, mas uma vez por ano boto algo inédito no mercado. Acabei de mudar de endereço e meu estúdio veio junto. O som do novo estúdio ainda nao está como eu quero, portanto não tenho feito a minha quantidade normal de músicas por falta de ânimo com a montagem do mesmo. Mas até o fim do ano termino a música que dará continuidade a Sun Is Coming Out. Não por acaso, ja comecei a criá-la.

Electro: Quais são seus planos e projetos para este ano? Você está mais focado agora no Sollar do que na carreira-solo? Falando em Sollar, desde quando você conhece o George Israel e como é a relação de vocês?

Memê: Não, meu foco principal é sempre minha carreira própria. O Sollar é um projeto que explodiu antecipadamente às nossas expectativas, mas que depende muito da disponibilidade de ambos. Supostamente, ele tem data pra acabar. Só que, por acaso, estamos vivendo agora o momento perfeito para estar na estrada, pois o Kid Abelha está parado e só volta em outubro. Até lá, então, podemos garantir. Depois, já não sei. Quem nos bookar agora, verá! Conheci o George há alguns anos, quando fui convidado pela Warner Music para trabalhar no álbum de remixes do Kid Abelha. Viramos excelentes amigos e já inclusive produzi metade de um disco do Kid à pedido deles. George é um daqueles amigos que você convida pra sair quando não tem nada pra fazer numa quarta à noite e fica comendo pizza até as cinco da manhã. Essa “brodagem” foi a alavanca para que juntássemos os trapinhos e saíssemos tocando juntos pelo país. A tal intimidade que falei, mas em quartos separados, ok? (risos) É impressionante o resultado de nossas apresentações nos clubs. Há alguma fórmula especial que eu ainda não identifiquei. Tem algo na nossa química que enlouquece o público, principalmente as moçoilas, sempre afoitas em frente à cabine. É como se fossem dois “Fabricios Peçanhas” tocando juntos (risos). Brincadeiras à parte, eu acho que é mesmo diferente do que rola por aí, por alguma razão. Talvez seja pela experiência que cada um de nós tem com todo tipo de público e pelo tipo de músicas que escolhemos tocar. Isso, por si só, já é um motivo real para que formássemos uma dupla. Talvez more aí o segredo do sucesso.

Créditos: Daniel Eduardo Gomes e ao Mestre Même via @Dj_Meme .

1 comentários:

Anônimo disse...

O KId volta em outubrooo

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